Escrevo plainando nas águas calmas do Douro. A velocidade do Douro Abaixo irrompe na corrente para a foz.
Estou recolhida na sombra. Lá fora, turistas recebem o sol com chapéus. Sentem o vento douriano. Observam o Porto. O quadro da sua memória constrói-se com o amontoado de casas, vividas e vazias, com o cheiro a maresia, a simpatia das gentes, com o movimento eléctrico da ribeira.
Desvio o olhar.
Em Gaia, o sol mantem a sua força e mostra que da história se faz o presente. As caves do vinho do Porto convidam a conhecê-la.
Vêem-se pescadores e crianças nas margens.
Oiço estórias do comandante. Conta, com a riqueza de quem as viu, de quem se empolgou por vivê-las. Partilhou-as. E eu quis saber.
A viagem de barco no Douro permitiu olhar do mesmo ponto de partida para duas margens. Houve fixação memorial de ambas. De ambas escutei os sons, cheirei os odores, absorvi o que me deram.
A memória fica dos momentos em que se deu e recebeu e da transitoriedade do caminhar, tempo de viagem em que não se está em sítio algum.